Previamente Entrevista: Esteban Tavares

Conversamos com o ex-baixista da fresno sobre novo álbum, parcerias, inspirações e sua experiência com grandes gravadoras

Escrever sobre um ídolo não é muito fácil, ainda mais para um jornalista, que não deve misturar emoção com a informação. Mas conheci o Esteban logo na sua entrada para a banda Fresno. Fui conhecendo o outro trabalho do músico na Abril, seu primeiro trabalho notório.

Dono de letras românticas e melodias bem trabalhadas, Rodrigo Tavares, o Esteban, segue em carreira solo e falou com o Previamente sobre Humberto Gessinger, futuro pós-Fresno e seu novo trabalho, intitulado Saca La Muerte de Tu Vida.

Aproveite e leia a entrevista escutando as canções dos mais recentes vídeos lançados por Esteban.

https://www.youtube.com/watch?v=HGRJWi5Yi7w

 

Em  menos de um mês de crowfunding, você arrecadou o bastante para a gravação do seu cd. Como você vê sua relação com os seus fãs neste projeto?
Esteban Tavares: É legal. Agora no momento que eu to conversando com vocês já passei de R$ 30 mil, faltando sete dias pro projeto. Espero que ele acabe do jeito que a gente planejou, que a gente consiga lançar o disco.

Acho importantíssimo o papel do fã na verdade, neste momento. Eu tenho uma relação complicada com o fã desde o começo. Eu amo vários, vários me odeiam e eu odeio vários. Eu sempre fui muito ligado no fã que é ligado na arte, no trabalho do cara. Acho que na época da Fresno houve uma exposição que fez a gente ter vários fãs que na verdade não eram bem fãs do trabalho que a gente fazia, mas eram fãs de um trabalho e de uma onda toda que tava acontecendo, estética e bem coisa de adolescente mesmo. É totalmente compreensível para um adolescente mesmo. Mas eu sempre divido os fãs entre os histéricos e os que gostam da música. Os que gostam da música, me cativam mais e dá pra ver no crowfunding assim, quem tá comprando tá indo atrás disso, tá afim de ouvir outro disco e não está afim de saber da minha calça, do cabelo e da minha barba. Isso é uma grande divisão pra mim assim, quem gosta e quem tá indo desesperadamente atrás da música. Então isso estreita uma relação com quem me leva a sério como compositor e como músico e me tem como ídolo. E sou muito feliz por que tem gente que aposta em mim de verdade. É estranho, é uma novidade, e ele funciona bem e separa os fãs do moleques.

Saca La Muerte de Tu Vida é o nome deste segundo álbum. O que podemos esperar dele? Algo mais Adiós Esteban ou Smokers In Airplanes e Liquid Love Reality?
ET: Acho que o Saca La Muerte de Tu Vida é uma evolução musical minha como compositor, como arranjador. Acho que o Adiós Esteban foi um disco muito carregado de música latino-americana, de rock argentino, uruguaio e gaúcho que a gente chama de “Rock Platino”. Já o Smokers e o Liquid Love, eu chamo de uma experiência totalmente Flórida, que é essa cena musical que acontece especificamente no estado da Florida, nos Estados Unidos, que é pós-emo. São caras como eu, que ficaram velhos também e faziam parte da cena do “Emotional Hardcore”. Ele nunca foi bem hardcore, mas do emo, enfim, e me influenciaram muito. Eram minha influência de rock na época da Fresno e não deixaram de ser. O Anberlin e o Stephen  Christian e o trabalho dele, que é o Anchor&Braille, o Aaron Marsh do Copeland, as coisas acústicas que o Anberlin fez, eu fiquei muito ligado nisso, ouvi muito esses caras e o jeito que eles concebem as músicas e me baseei muito pra fazer os dois EPs. Os EPs nem eram pra sair. Eu os fiz mais pra poder cantar com o Stephen e o Aaron. Tive outro convidado de honra, que foi o Lucas Lima, da Família Lima, que fez o arranjo de cordas do Smokers, e o baterista do Copeland gravou a bateria do Liquid Love. Quer dizer, eu montei um time que eu nunca imaginei ser montado.

Mas sobre o Saca La Muerte eu acho que ele vem com essa mistura das coisas desse rock platino e esse pop pós-emo americano que tá dentro da minha genética musical, que adentrou com o tempo e virou parte do meu DNA musical. Tô tentando fazer um híbrido disso, mas na verdade o resultado final só quando sair o disco mesmo pras pessoas terem ideia do que eu estou fazendo.

Uma das presenças confirmadas no seu cd é a da cantora blumenauense Tay Galega. Como surgiu a parceria?
ET: A gente se conhecia virtualmente pelo projeto que ela tinha com o Marlon. Depois ela saiu em carreira solo. Eu vi que ela gravou algumas músicas minhas no Youtube. Eu acho ela muito talentosa e tem muita personalidade como artista, fala bastante sobre as coisas que incomodam ela e tenta mudar isso, sem contar que canta muito. Eu queria botar uma menina cantando comigo uma música, tanto que eu fiz uma especialmente para que ela cantasse comigo. Convidei ela por DM mesmo, nem liguei por telefone. Ela aceitou e vai fazer parte desse trabalho com muito orgulho. Eu acho que ela é uma grande expoente nova da música brasileira e tem muita coisa pra mostrar. Ela tá recém começando, mas tem muitos anos de trajetória pra menina e ela é muito boa, não teria porque não agrega-la ao disco.

Outra participação que vai ter é a do Carlos Figueroa, vocalista da banda Radial, de Porto Rico, que eu sou muito fã. Nesse momento eu tô gravando uma participação no disco deles. Eu tô muto orgulhoso de ter sido convidado, já que é uma banda que eu sou fã e fui atrás. Eu falei muito bem deles, aí viram que aqui no Brasil eu tinha uma certa exposição, daí vieram atrás de mim pra conversar e se tornou uma pequena amizade, aí rolou essa troca de participações. Mas a princípio vão ser essas duas participações vocais no disco. Quem sabe eu chame mais algum músico pra tocar algum instrumento. Nesse disco eu quero ser um pouco mais egoísta, porque nos outros eu gravava tudo. A produção será minha e do Marco Lafico, que é mais um amigo junto.

Desde 2013 você vem tocando com o Humberto Gessinger, para 2015 podemos esperar a continuidade deste projeto? E como casar sua carreira solo, com essa?
ET: Eu e o Humberto acabamos de lançar um dvd, o Insular Ao Vivo. Trinta anos de carreira do Humberto, 30 anos de composições e méritos do cara. Pra mim é uma realização muito grande. Todo mundo sabe que eu sou muito fã do que ele fez como músico tanto no Engenheiros do Hawaii como no Pouca Vogal, e ter sido convidado pra fazer parte disso foi uma grande evolução na minha vida, não na minha carreira, mas na minha vida. Eu virei outra pessoa. Quando saía os cds do Engenheiros, eu ficava com a guitarra na frente do espelho tentando tirar as músicas, me sentindo um engenheiro, e hoje eu toco com o cara. Não posso ser mais feliz por isso. Eu fico embasbacado toda vez que eu tô tocando e tô ali do lado dele e estou fazendo parte daquilo. E agora tá registrado em dvd também, tá registrado em CD, eu acho que é eterno e ninguém apaga.

Nós dois temos um relacionamento bom. Quando me chamou pra eu se juntar a ele, sempre falou que eu desse prioridade pra minha carreira. Quando eu tivesse shows importantes que a gente conversasse previamente isso e que teria substituto pra mim na banda dele. Ele já fez show com o Aranha, o Luciano Granja e com o Nando Peters. Temos guitarristas nos shows que eu não posso fazer. Claro que o ideal é sempre casar as duas agendas pra que eu não fique de fora de nenhum show ou perca algum show do Esteban, mas a gente tenta da forma mais saudável possível conciliar os dois sem que um atropele o outro. Eu sei que nunca vou atropelar o Humberto porque o cara é um gênio, um monstro da música. A gente leva isso muito na boa, porque ele é um cara que tem 51 anos e 25 discos de ouro né? Eu tenho 32 e to indo pro meu segundo disco solo. São duas situações muito diferentes e ele entende bem, me deixando muito grato por isso.

Quais são suas principais inspirações pra compor? Qual música sua o público mais gosta?
ET: Eu já tive muita inspiração pra compor. Hoje eu sou um cara mais frio pra escrever. Pra fazer uma música eu tinha que me expor mais e hoje eu tento me expor menos. É difícil né, as pessoas não entendem muito. Quem curte meu trabalho, fica cobrando, “pra quem tu fez essa música?” e eu respondo “pra ninguém”. Simplesmente eu fiz uma música muito legal, que saiu da minha cabeça e rimava. Eu não tenho obrigação de explicar pra quem eu fiz um som. Já me senti nessa posição antes e fiz isso. Foi meu grande erro, porque depois você é cobrado pelo o que tu estás fazendo, como tá fazendo e quem tá te levando a fazer isso. Hoje eu sou um cara que prezo por uma boa melodia, se eu tiver que falar de algum assunto que está passando por mim no momento eu falo, mas, não é mais uma obrigação. Eu tô mais por uma boa rima e uma boa música do que um blog da minha vida. É até mais tranquilo pra mim porque isso acaba atrapalhando todas as pessoas que andam em volta de mim. Então agora eu estou desencanando um pouco disso. Eu quero fazer a música e se a música for boa, whatever, eu aceito ela no meu repertório. Ela não precisa ter algo emocionante ou uma história verdadeira por trás.

No seu período musical da Abril até Esteban você fez um passeio pelas mais variadas vertentes do rock. O projeto Esteban pode ser considerado o estilo 100% você?
ET: Pode… Pode Total! Porque é meu. Literalmente eu faço tudo sozinho. Resolvo sozinho, componho sozinho, eu aprovo sozinho. Então passando pelo primeiro passo, eu não preciso dividir ideia com uma banda, isso é bom pra mim, às vezes é ruim também. Dá saudade do lance da banda. Banda é uma coisa importante, uma coisa que se complementa. Mas quando estás sozinho também tu tem controle total sobre aquela obra que tu estás criando.

Então sim, o Esteban é 100% eu, o que eu gosto de fazer, do jeito que eu gosto de fazer e é o  que eu quero ser interpretado e entendido. Quem compra a ideia compra uma versão minha cantada.

Para o mercado musical qual a diferença de se gravar um álbum com uma grande gravadora (caso da Universal) e gravar de maneira independente?
ET: Cara, gravar com uma grande gravadora… Eu não tive experiências boas no ramo. Eu fui contratado da gravadora Universal, junto com a Fresno, por cinco anos, mas nem tudo foi do jeito que a gente imaginou. Chegamos lá achando que teríamos a mesma liberdade que antes. O sucesso que nos levou até uma gravadora foi concebido pela banda e não pela gravadora, e quando chegamos lá parece que o papel tinha se invertido. Parece que eles tinham feito um grande favor pra gente e que tínhamos que ficar bem quietos e ouvir o que eles tinham de experiência. A experiência deles é pífia, porque eles não conseguiram lidar com mp3, não conseguiram lidar com nada e faliram. É só um monte de cara cagando regra como se entendesse alguma coisa e a maioria deles não entende porra nenhuma. Tem caras que eu vi dentro de gravadoras que eu respeito muito e tem uns que são legítimos picaretas. Por exemplo, na Universal tem o Paul Ralphs, que é um dos melhores produtores do mundo. Infelizmente nunca tivemos oportunidade de trabalhar com ele, que é um grande produtor e trabalhava na mesma gravadora que a gente. Às vezes no mesmo lugar tem profissionais que são bons demais e tem profissionais que sabem falar demais, mas atuar com produção musical eles não sabem. E o lance da nossa gravadora era atrelado gravadora e empresariamento, que eu vejo como prejudicial também, embora o grupo Arsenal, que cuidava da nossa venda de shows, fazia essa parte muito bem. Acho que deviam ser separados, pois contamina o próprio escritório e a própria banda, pois querem que a banda soe mais pop pra poder vender mais show e acaba descaracterizando o grupo. Gosto muito dos discos que eu fiz com a Fresno pela Universal, mas a gente sabe o que a gente fez de verdade e o que quase acabou sendo imposto para fazermos. Então o lance de trabalhar com uma gravadora pode ser duvidoso, porque pode ser uma merda, maravilhoso ou meio a meio. No meu caso, eu acredito que foi meio a meio, mas eu, pra trabalhar com uma gravadora de novo, eu tinha que ter muita certeza, não ia me atirar de novo nessa piscina sem saber se tem água.

Suas letras são consideradas românticas, até um pouco depressivas. Você se considera um cara 100% romântico?
ET: Na minha burrice, sim. Se eu fosse 100% romântico e bom, eu escreveria livros lindos, mas eu não consigo fazer nem uma poesia simples. Mas eu gosto de falar sobre isso. O grande lance pra mim depois de vários anos vivo, é amar, independente de quem. Pai, mãe, mulher ou amigo. Nossa vida é permeada pelas relações e é isso que eu gosto de falar e é por isso que eu sofro e por isso que eu sou feliz. Sou um cara que não fica mal se está endividado ou não tenho certas coisas. Sou um cara que se deixa abater pelo amor.

O que podemos esperar do Esteban em 2015?
ET: Muita música nova, muita coisa sendo feita como músico, tocando com o Humberto e novos ídolos. Não sou só compositor, sou um músico e fui reconhecido por isso algumas vezes e fico feliz que no papel de músico eu tenha conseguido certo sucesso. 2015 é continuar trampando e sendo o melhor que eu posso ser e tentando passar isso pra galera.

Por último, pedimos para nossos entrevistados indicarem uma música que não seja dele e o inspira. Qual música mais tem lhe inspirado ultimamente?
ET: Eu quero indicar a música “Recogeme en Sol”, da banda Radial, que é o que eu mais tenho ouvido ultimamente e tem me inspirado demais.

por dinho de oliveira

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