A Entrevista | Review

Apesar de todo o barulho e a polêmica, será que vale a pena assistir?

The Interview posterHá tempos não havia uma polêmica tão grande por conta de um filme. Quando foi a última vez em que alguém ameaçou a vida de milhares de pessoas devido a exibição de um longa-metragem? A Sony Pictures sofreu bastante com a invasão dos hackers em seus computadores, com muitas informações vazadas, incluindo películas ainda não lançados. Quem diria, no entanto, que o foco dos invasores seria se vingar por um filme? A Entrevista virou alvo de retaliação dos terroristas cibernéticos, que exigiam o não-lançamento dele. Depois de cancelamentos, bronca de Barack Obama, bloqueio da internet na Coreia do Norte (no fim das contas, o governo norte-coreano estava mesmo envolvido) e lançamento limitado em algumas salas nos EUA e também na internet, A Entrevista finalmente viu a luz do dia e eu, bom samaritano que sou, paguei o YouTube para assistir em primeira mão ao longa-metragem mais polêmico dos últimos anos.

Mas afinal, por que o governo da Coreia do Norte se sentiu tão ofendido a ponto de querer impedir o lançamento de A Entrevista? Ao assistir ao longa, não dá para entender. Primeiramente, trata-se de uma comédia altamente satírica. Ataca com veemência o governo norte-coreano? Sim. Mas esse não é o único alvo dos diretores Evan Goldberg e Seth Rogen. O que percebe-se é uma falta de senso de humor dos companheiros comunistas. Há mais de dez anos, quando os criadores de South Park lançaram nos cinemas Team America: Detonando o Mundo, as críticas e tiração de sarro em relação ao ditador da época, King Jong Il, eram até mais ácidas e nem por isso a Coreia do Norte ameaçou um novo 11 de setembro. Aparentemente, o filho Kim Jong-un não possui o mesmo bom humor do pai.

James Franco
Foto: Sony Pictures

Veja bem, não é engraçado porque a zoação é em cima dos comunistas. Quando Sacha Baron Cohen cuspiu na cara dos costumes dos estadunidenses com o genial Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja À América foram os conservadores de mal com a vida que reclamaram, enquanto o resto do mundo aplaudiu de pé. A Entrevista é divertidíssimo porque não se leva muito a sério e é assim que todo mundo deveria encará-lo. A partir disso, é possível cair na gargalhada, pois o longa é incrível.

Dave Skylark (James Franco) e o produtor Aaron Rapoport (Seth Rogen) são responsáveis por um programa de fofocas de celebridades intitulado “Skylark Tonight”. As revelações são das mais impressionantes e toscas, como Rob Lowe usar peruca e criar polêmica ao analisar mais profundamente as letras de uma música do rapper Eminem. Por motivos óbvios, eles não são levados a sério pelos outros jornalistas, já que o tipo de programa que fazem é o pior possível. Cansados de serem rotulados negativamente, eles decidem ser levados a sério. Para que isso aconteça, eles conseguem uma entrevista com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un (Randall Park), fã confesso da atração. Eles são chamados para bater um papo com o norte-coreano em Pyongyang. Ao terem a viagem confirmada, a CIA entra em contato com eles e os recrutam para assassinar Jong-un.

A Entrevista - Hackers ameaçam novo 11 de setembro
Foto: Sony Pictures

James Franco e Seth Rogen estão num entrosamento ainda maior do que nas parcerias anteriores. Rogen está num papel que já lhe é comum, mas Franco sempre surpreende quando incorpora sua faceta cômica. Tão competente quanto eles é Randall Park. O ator sai melhor do que a encomenda e traz em seu personagem vários lados, provando ter um timing cômico impecável. Destaque para a cena da entrevista.

O longa-metragem não poupa piadas sobre o regime ditatorial da Coreia do Norte e tampouco deixa de lado exageros, que são muitos. Para quem tem um pingo de bom humor, sabe bem que não é a intenção de uma película desse tipo retratar com fidelidade a realidade. Por brincar com os exageros, reais ou não, sobre a nação norte-coreana é que o filme acaba sendo relevante em algum sentido. É uma forma de tirar sarro daqueles que pensam que tudo acontece exatamente desse jeito na Coreia do Norte, em especial os estadunidenses. Afinal, é essa a imagem que se tem a partir dos veículos de comunicação.

A Entrevista 03
Foto: Sony Pictures

Não me cabe defender ideologias políticas, mas mesmo não sendo a favor do tipo de governo ditatorial que existe ao lado da Coreia do Sul, sei que não chega a ser dessa maneira como é retratada em A Entrevista. No entanto, os ataques realizados por hackers com apoio (fato consumado) e participação (fato não confirmado pelas autoridades do país) do governo norte-coreano realmente me fazem concordar que Kim Jong-un parece ser essa pessoa insegura, mimada, cheia de si e arrogante a ponto de ameaçar ataques terroristas por terceiros por causa de um filme de comédia.

Em termos de meios de comunicação, A Entrevista consegue dar o seu pitaco no tema. O tipo de “jornalismo” praticado pelos protagonistas é pífio, mas infelizmente é o que faz sucesso. O longa tira onda e, de quebra, critica esse tipo de trabalho. Nem mesmo o serviço de inteligência dos EUA é poupado das piadas, colocado como um tanto incompetente e até mesmo sexista ao utilizar uma agente com grande decote e de óculos só para seduzir e convencer os personagens de Rogen e Franco a aceitarem a proposta quase suicida.

Foto: Sony Pictures
Foto: Sony Pictures

Resumindo a ópera, A Entrevista atinge o seu objetivo, que é fazer rir. Há tempos não me divertia tanto, mesmo que seja pura bobagem. E não, o conteúdo não justifica ataques de hackers, ameaças terroristas e exposição de privacidade alheia. Mais liberdade de expressão e bom humor. O mundo está precisando.

The Interview
EUA, 2014 – 112 min
Comédia

Direção: Evan Goldberg, Seth Rogen
Roteiro: Dan Sterling, com história de Seth Rogen, Evan Goldberg e Dan Sterling
Elenco: James Franco, Seth Rogen, Lizzy Caplan, Randall Park, Diana Bang

4 STARS

Por Rodrigo Ramos

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