A sátira política flerta com boas ideias, mas entrega mais do mesmo
Por Rodrigo Ramos
Em termos de criação, Roberto Santucci não é um dos melhores profissionais no mercado o cinematográfico brasileiro. Assim como ele, há diversos diretores e roteiristas no Brasil que não procuram reformular o que é feito no Brasil, especialmente na TV aberta em programas humorísticos mais do que datados. É incrivelmente chato voltar ao assunto, mas o cinema nacional, mesmo que tenha evoluído nos últimos quinze anos, ainda peca crucialmente no gênero da comédia. E isso é preciso ser dito.
Parece uma generalização banal, mas faz tempo que o humor no cinema precisa de um respiro. Quando adaptações comandadas por Guel Arraes (O Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro) ou invenções de Jorge Furtado (O Homem Que Copiava, Meu Tio Matou um Cara e Saneamento Básico) chegam às telas, é algo a se celebrar. Todavia, eles são minoria no mar de repetições de fórmulas hollywoodianas e que pecam pela ausência de identidade. O Candidato Honesto, mais um longa-metragem de Santucci (das sagas De Pernas Pro Ar e Até Que a Sorte Nos Separe), tem de tudo um pouco do que já vimos e cansamos de ver. Um pouco do humor do Zorra Total misturado com plágio descarado do que fora feito anteriormente nos EUA e um discurso de redenção/lição de moral, o que é uma das piores coisas a serem roubadas do cinemão estadunidense.
Não é com muita animação que se assiste O Candidato Honesto, porém, em certa escala, o longa consegue mesmo surpreender. O timing do lançamento foi perfeito: no fim de semana das eleições brasileiras. A temática política é perfeita para ser explorada. Afinal, o Brasil não sofre de terremotos, maremotos, vulcões, tornados, esses desastres naturais devastadores – apesar de haver uma enchente aqui e escassez de água ali –, mas sofre com o mal da corrupção. Somos mundialmente conhecidos por isso, além, é claro, de nossos bumbuns, futebol (agora nem tanto, depois do 7×1) e nosso carnaval. Há muito o que se tirar sarro da política no país e a película consegue ter sacadas muito boas em cima de aspectos que traduzem a politicagem aqui. Propinas, CPIs, a história de redenção do candidato pobre, a camisa amassada e expressão de cansaço após a apuração dos votos da eleição, o deputado evangélico da câmara que utiliza a religião como plataforma de governo, a imagem da família perfeita ao lado do candidato, e por aí vai. Por mais difícil que possa parecer, Santucci parece ter amadurecido – mas é levemente.
Mesmo abordando um tema que é cheio de piadas e que pode ser explorado à exaustão, o longa-metragem acaba caindo nas ciladas normais. A narrativa é uma cópia descarada de O Mentiroso, aquele filme da década de 90 estrelada por Jim Carrey. Com um pedido (aqui é o da avó do protagonista e não do filho), o candidato à presidência (no filme estadunidense, era um advogado) não consegue mais mentir. Leandro Hassum tenta com vigor e copia Carrey nos gestos, olhares, bocas e expressões. É tudo igual. No primeiro momento em que não consegue mentir, diante de sua esposa, ele repete situações idênticas de O Mentiroso. É claro que Carrey também não é o gênio único da comédia, afinal ele também se inspira claramente em Jerry Lewis, mas isso não significa uma cópia. Já Hassum não tem medo em ir adiante com o xerox. Tudo bem. Para aqueles que não assistiram o produto em que é baseado, pode ser que funcione. Já para quem tem memória cinematográfica, não é possível apreciar tanto, mesmo que o longa traga virtudes que não haviam na filmografia de Santucci até agora.
No desfecho, escolhe-se o caminho óbvio. O discurso que redima o personagem após vários tropeços – exatamente como acontece nos dois Até Que a Sorte Nos Separe. Santucci prova que pode se repetir e se copiar sem medo. Ele não está preocupado, até porque o público ainda aparece em peso nos cinemas para acompanhar suas peripécias. O Candidato Honesto apresenta melhoras, mas passa longe de demonstrar um caminho diferente nas comédias brasileiras de grande escala – o que é uma pena. Perde-se uma oportunidade.
O Candidato Honesto
Brasil, 2014 – 110 min
Comédia
Direção:
Roberto Santucci
Roteiro:
Paulo Cursino
Elenco:
Leandro Hassum, Victor Leal, Luiza Valdetaro
https://www.youtube.com/watch?v=bndlriD5Gek