Hércules | Review

A desconstrução de uma lenda 

Hercules poster

Por Rodrigo Ramos

Todo ano há um fenômeno de filmes que seguem uma temática bem semelhante, muitas vezes partindo da mesma origem. Em 2006, tivemos O Ilusionista e O Grande Truque, que tratavam sobre mágicos/ilusionistas. Em 2012, o conto da Branca de Neve teve uma versão mais água com açúcar (e ruim) em Espelho, Espelho Meu e outra mais sombria e ‘realista’ (e menos ruim) com Branca de Neve e o Caçador. Em 2013, a casa do presidente dos EUA foi o alvo em Invasão a Casa Branca e O Ataque. Já 2014 parece ser o ano perfeito para falarmos de Hércules, o semideus grego que já ganhou três adaptações cinematográficas só nestes nove primeiros meses.

HERCULES

Há um tal de Hercules Reborn (vou fingir que nem passei por esse filme no IMDb), Hércules (no original, The Legend of Hercules), um dos piores longas deste ano, e o mais recente e também o mais decente, Hércules, dirigido por Brett Ratner (X-Men: O Confronto Final e trilogia A Hora do Rush). O mais recente deles, estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson, é, talvez, aquele com mais pé no chão. Não, ele não é um semideus capaz de voar. Pelo contrário. A lenda do filho bastardo de Zeus é, na verdade, levada para uma outra direção bem mais interessante do que as abordagens já feitas até então.

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Na trama deste aqui, inicia-se com os primeiros trabalhos de Hércules (Dwayne Johnson) contados por seu primo, Iolaus (Reece Ritchie). A lenda conta que o filho de Zeus realizava todas as suas façanhas sozinho. Pois bem, a ideia do filme é descontruir essa imagem. Hércules, na realidade, é apenas um mercenário muito (mas muito) forte, que não age sozinho, tendo outros cinco aliados que o ajudam a concluir as tarefas que lhe são repassadas em troca de ouro. O próprio protagonista assume que o que falam sobre ele é um pouco maior do que realmente fez. Suas conquistas são aumentadas para realçar a lenda e para impor respeito e medo naqueles que o enfrentam.

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Conforme a película se desenrola, Hércules vai se provando um semideus pelas suas ações, não necessariamente porque sua descendência é verdadeira, já que nunca fica claro na narrativa se ele é mesmo filho de Zeus ou não. O que importa, basicamente, é acreditar em si próprio. Tá certo que não precisava forçar tanto na lição de moral clichê que desfecha o longa, mas tudo bem, no geral, neste direcionamento, o objetivo é alcançado.

HERCULES

No entanto, não dava para se esperar só coisas positivas em Hércules, não é mesmo? A trama principal leva Hércules e seu grupo de mercenários para trabalhar para um rei (interpretado por John Hurt), que acaba mostrando ter segundas intenções em suas conquistas com o batalhão de meia dúzia do semideus. É aquela virada já esperada, em que o bonzinho na verdade não é tão bom assim, e por isso Hércules vai ter que se mostrar valente, um homem de honra e bom em sua essência. Dá pra imaginar o que acontece, sem nenhuma novidade.

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A obviedade seria um fator menos relevante caso os personagens trouxessem uma tridimensionalidade, mas não é o caso. Os companheiros mercenários do protagonista respeitam todos os clichês: um deles é o mais malandro, que num momento decisivo vira as costas para os amigos, mas que volta atrás aos 45 minutos do segundo tempo; um deles é o mais engraçadinho; outro é o mais covarde e fraco, que em algum momento provará que pode ser tão badass quanto seus amigos; a única mulher é masculinizada num estilo Xena, a princesa guerreira; e sempre tem um mais malucão, que neste caso age como um animal, uma besta selvagem (mas tem um bom coração gente, fiquem tranquilos). Daí fica difícil curtir quando o que nos é apresentado é a mesma versão corriqueira da qual estamos acostumados a assistir há um século.

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O lado dramático também é bem dispensável, não causando o impacto projetado pela direção. Afinal de contas, convenhamos, Brett Ratner não é um grande diretor a ponto de extrair momentos comoventes e sérios de verdade. Apesar disso, ele até que acerta no humor em algumas situações e manda bem pra caramba nas cenas de ação – mas isso só Michael Bay mesmo pra errar a mão com tanta megalomania. Hércules é um daqueles exemplares de filme da Sessão da Tarde. Se tiver passando um dia na TV à tarde, dá pra assistir. Porém, não é o tipo de fita que iremos atrás intencionalmente para rever, pois a lenda não é tão lendária aqui.

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Hercules
EUA, 2014 – 98 min
Ação

Direção:
Brett Ratner
Roteiro:
Ryan J. Condal, Evan Spiliotopoulos
Elenco:
Dwayne Johnson, Ian McShire, Rufus Sewell, Aksel Hennie, Ingrid Bolsø Berdal, Reece Ritchie, Tobias Santelmann, Joseph Fiennes, Peter Mullan, Rebecca Ferguson, Isaac Andrews, Irina Shayk, John Hurt

3 STARS

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