Uma carta aberta, do fundo do coração, à Michael Bay
Por Rodrigo Ramos
Caro Michael Bay,
Escrevo esta carta para você porque fui ao cinema assistir seu novo trabalho, Transformers: A Era da Extinção. Eu fui totalmente sem expectativas. Gastar quase R$ 30 para ver um longa-metragem seu parece ser desperdício de dinheiro. De fato é. Mas se deparar com uma obra sua na telona é como ver aquela sua ex-namorada terrível, mas visualmente atraente. Você acaba cedendo, porque a carne é mais fraca. E depois de ir pra cama com ela – neste caso, entrar na sala de cinema –, o arrependimento vem imediatamente.
Não sei o que existe em seus trabalhos que fazem com que o público ainda vá prestigiá-lo. Talvez seja exatamente isso que as pessoas querem: nada. Entre várias franquias relevantes na história cinematográfica como O Senhor dos Anéis, Star Wars, O Poderoso Chefão, Harry Potter e por aí vai, Transfomers é um daqueles casos que não se adiciona em nada. Aliás, um filme parece exatamente igual ao outro. Sério, Michael, por que você faz isso conosco?
Nessa história, você joga todo o elenco anterior fora (isso aí!) e introduz novos personagens humanos, colocando como pano de fundo a cautela da segurança nacional dos EUA em relação aos transformers após a destruição de Chicago no longa antecessor. O protagonista novo é Cade Yaeger, interpretado por Mark Wahlberg, um inventor ferrado, sem um tostão no bolso para pagar as contas e nem a faculdade da filha Tessa (Nicola Peltz). Até que um dia ele vai comprar um cinema (?) e encontra lá dentro um caminhão (??). Esse veículo, é claro, Optimus Prime. Começa então a caçada aos autobots pela agência de segurança dos EUA e também por um transformer que é um caçador de sua própria espécie.
Michael, não entendo porque você continua fazendo sempre o mesmo filme . O plot é risível, com Mark Wahlberg dando pitis por conta de sua filha, dona de duas pernas de vareta – aonde estão as atrizes com coxa, tio Bay? Boa parte dos diálogos é focado entre as briguinhas enciumadas do pai com a filha e o namorado dela – por ser tão irrelevante nem vou me dar ao trabalho de procurar o nome dele no IMDb. Os ângulos são todos iguais (aquele contra-plongée, os contras-luzes, as câmeras lentas), as sequências de ação devastadoras, as piadinhas forçadas e por aí vai. Aliás, são tão iguais que não duvido que você tenha novamente reutilizado material próprio anterior [veja os vídeos abaixo]. Sei que você até tentou (muito de leve) tirar sarro de si mesmo, como na cena do cinema em que cita que o antigo teatro faliu porque as pessoas só querem saber das sequências de porcaria hollywoodiana. Mas esse tipo de piada é autodepreciativa, uma tentativa falha de rir de si mesmo. Embaraçoso, tio Bay.
https://www.youtube.com/watch?v=H7kcqB3thJM
A cada filme, as motivações dos autobots de protegerem o planeta ficam mais rasas. Todos eles já foram destruídos, quase (ou totalmente) mortos nos longas anteriores, mas estão aí de volta – até Goku fica com inveja com tantas ressurreições. O roteiro também é meio bagunçado – como tudo. Veja bem, Michael. Lembra aquela cena em que numa das fugas na China, em um prédio, estão Cade e outros três personagens e o elevador não desce, então Cade sai de dentro porque diz que não está descendo pelo excesso de peso? Pois então. Como você coloca isso no roteiro e em seguida filma dentro do local e foca no aviso que aponta o limite de 680 kg ou 9 pessoas? Sem contar na premissa de que os transformers são os responsáveis pela extinção dos dinossauros na Terra. São as pequenas somadas às grandes coisas (explosões, robôs gigantes, acidentes!) que fazem com que seu filme, meu amigo, seja extremamente dispensável.
As cenas de ação, oh Michael. É tudo tão genérico, sem inspiração. É tudo tão igual, barulhento, sem descanso, sem muita necessidade de acontecer. Não há o suspense, não há a preparação de terreno para as coisas acontecerem. Há somente a destruição em massa. A dor de cabeça é aguda, mas ao menos dá para diferenciar quem está lutando contra quem – parabéns por isso.
Sei que minhas palavras podem ser duras demais, mas você aguenta. Afinal de contas, só na China, sua obra ultrapassa a barreira dos US$ 300 milhões, sendo a maior bilheteria da história do país. Sua arrecadação no mundo já bateu os US$ 960 milhões! Dinheiro não lhe falta. Aparentemente você não está preocupado em se esforçar e fazer ao menos uma história interessante, uma narrativa mais contida e menos explosiva. Acredito que tenhas encontrado o ponto certo que desejava: muita explosão e nada de cérebro. Quanto menos deste item, melhor. Seu trabalho não traz absolutamente nada de bom, não melhora em nada em relação à trilogia e, pra variar, você mostra que não sabe editar um filme – qual o propósito de nos fazer ficar quase três horas sentados só pra isso? Digno de tortura chinesa.
Espero não ter sido muito agressivo, porém tinha que desabafar e lhe contar tudo isso. Conto com sua compreensão.
Atenciosamente, um idiota que insiste em pagar para ver seus filmes no cinema.
Transformers: Age of Extinction
EUA, 165 min
Ação
Direção:
Michael Bay
Roteiro:
Ehren Kruger
Elenco:
Mark Wahlberg, Stanley Tucci, Kelsey Grammer, Nicola Peltz, Titus Welliver, Jack Reynor, Bingbing Li
Concordo em tudo que escreveste. Só terminei de ver em 2021