O verdadeiro retrato feminino ganha ainda mais forma no segundo ano da série
Por Rodrigo Ramos
Os modelos femininos em obras de ficção nem sempre ganham as tridimensionalidades de mulheres de verdade. Muitas vezes, elas são construídas como frágeis, dependentes, envoltas por um clichê que a sociedade construiu com o passar do tempo, com o sexo feminino sendo vendido como inferior em relação aos homens. Felizmente, nos últimos anos esse quadro tem sido revertido desde obras literárias infanto-juvenis (Hermione em Harry Potter e Katniss Everdeen em Jogos Vorazes) até programas televisivos (The Good Wife e Mad Men). Dentro deste segundo item, encontra-se Orange is the New Black.
Em seu segundo ano, OITNB mostra-se ainda mais eficaz na hora de explorar suas personagens femininas (e até os masculinos). Pra quem não sabe, a série é ambientada dentro de um presídio para mulheres depois que Piper Chapman (Taylor Schilling) é presa por participação em tráfico internacional de drogas, juntamente com sua ex-namorada Alex (Laura Prepon). O ano número dois dá sequência aos dramas de Piper e todas as demais detentas.
Se no ano anterior Piper era o centro das atenções, seu papel na série diminuiu consideravelmente, assim como sua parceira Alex, que faz apenas umas pequenas participações – mas calma, pois ela volta pro elenco fixo no ano que vem. Apesar de menos tempo em cena, Piper se tornou mais forte, mais madura e não necessariamente menos irresponsável. A evolução da personagem é visível, assim como do restante do elenco.
OITNB se tornou uma série sobre o coletivo das mulheres e não sobre apenas uma personagem. Do episódio um ao treze, a linha delimitada fica clara e a narrativa vai se moldando como se tudo fosse cuidadosamente planejado – o que de fato acontece. Quando assistido um capítulo seguido do outro, fica evidente que um é a continuação direta do outro, o que dá uma sensação de um longuíssimo filme.
Os dramas aqui são mais focados na divisão das personagens dentro da prisão com a chegada de Vee (Lorraine Toussaint), uma espécie de mãe adotiva de Taystee (Danielle Brooks) em seu passado, e que tem uma antiga rixa com Red (Kate Mulgrew). Com sua presença, os grupos se dividem entre as latinas, que tentam ficar na delas, as negras e as brancas, transformando a situação numa disputa de território.
O principal atrativo de OITNB é conseguir explorar todas as suas personagens sem preconceitos. Em nenhum momento o espectador julga as detentas por suas escolhas. Pelo contrário, nos flashbacks acabamos compreendendo traços de personalidade e como a vida fez com que essas mulheres chegassem a tal ponto. Os roteiristas trabalham de forma primordial ao conseguir conciliar perfeitamente os olhares do passado com os acontecimentos do presente. O primeiro episódio da temporada, dirigido por Jodie Foster, é uma prova disso, mostrando como os valores da infância de Piper refletem na sua vida adulta.
Vale destacar também que a série conta com um elenco sensacional. Todo mundo é coadjuvante aqui, quase como o que acontece em Game of Thrones. Mas a cada participação dos respectivos personagens, sejam eles homens, mulheres, detentas, funcionários do presídio e até mesmo aqueles que tem alguma ligação com as presas ali dentro, percebe-se um comprometimento dos atores com seus papéis. Nenhum deles é menos importante ou menos interessante do que o outro, especialmente neste segundo ano – ok, talvez o Larry (Jason Biggs) seja, mas só ele.
No saldo final, OITNB mostra que não somente a mulher, mas as pessoas são muito mais do que apenas o que aparentam ser. A figura feminina nunca fora tão bem explorada e analisada numa obra de ficção, delineando verdadeiramente o que é ser mulher, ficando muito à frente de Sex and the City neste quesito. Hoje, o seriado do Netflix é fácil um dos cinco melhores no ar, comédia ou drama.
A série teve sua segunda temporada lançada pelo serviço de streaming Netflix no dia 6 de junho. Como de praxe, o site disponibilizou de uma só vez os 13 episódios.
Orange is the New Black: Season 2
EUA, 2014 – 13 episódios
Comédia | Drama
Criado por:
Jenji Kohan
Elenco:
Taylor Schilling, Uzo Aduba, Danielle Brooks, Michael J. Harney, Natasha Lyonne, Taryn Manning, Kate Mulgrew, Jason Biggs, Laverne Cox, Catherine Curtin, Lea DeLaria, Beth Fowler, Germar Tarrel Gardner, Joel Marsh Garland, Annie Golden, Vicky Jeudy, Selenis Leyva, Matt McGorry, Adrienne C. Moore, Matt Peters, Dascha Polanco, Alysia Reiner, Elizabeth Rodriguez, Nick Sandow, Daniel Sauli, Yael Stone, Skipp Sudduth, Lorraine Toussaint, Samira Wiley, Laura Prepon