Os melhores e piores filmes, os premiados, os que não falam em inglês e por aí vai
Por Rodrigo Ramos
O Previamente resolveu fazer um grande especial, um Review Retrô com o que aconteceu há dez anos na cultura pop, abraçando o cinema, a TV e a música. Nós olhamos o passado com bons olhos e curtimos uma nostalgia caprichada.
Esta primeira lista você já deve ter entendido sobre o que se trata. Compilamos em nossa redação os melhores filmes e de maior destaque que foram feitos no ano em questão, os vencedores nos principais prêmios dedicados à Sétima Arte, além de longas-metragens nem tão bons, assim como outros que já são clássicos da TV nos dias atuais. Confira a lista logo abaixo e veja como 10 anos passam mais rápido do que você tinha lembrança.
Premiações!
No 61º Globo de Ouro, no dia 25 de janeiro de 2004, quem levou a maioria dos prêmios foi O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, com quatro conquistas, incluindo filme drama e direção (Peter Jackson), seguido por Encontros e Desencontros (três prêmios) e Sobre Meninos e Lobos (dois prêmios).

No dia 29 de fevereiro de 2004 aconteceu a 76ª edição do Oscar, apresentada pelo ator Billy Crystal. A edição entrou para a história dos anais cinematográficos. Na noite em questão, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei se tornou o maior vencedor da história do Academy Awards ao lado de Titanic e Ben-Hur. Foram 11 prêmios, incluindo melhor filme, roteiro adaptado e direção (Peter Jackson). Será que algum dia algum filme irá ultrapassar essa marca? E outro longa-metragem de fantasia um dia faturará o troféu de melhor do ano na premiação? Quem é que sabe. Ainda neste ano, Charlize Theron (Monster), Sean Penn, Tim Robbins (Sobre Meninos e Lobos) e Renée Zellwegger (Cold Mountain) conquistaram os prêmios de melhor atriz, ator, ator e atriz coadjuvantes, respectivamente. Sofia Coppola ainda levou o prêmio de roteiro original pelo maravilhoso Encontros e Desencontros.

Longe dos EUA, lá na França, aconteceu a 57ª edição do Festival de Cannes. O juri, presidido por Quentin Tarantino, laureou o documentário Fahrenheit 11 de Setembro, de Michael Moore, com o troféu mais cobiçado da premiação, a Palma de Ouro.

Filmes que vocês achavam que eram bons, mas na verdade não são – e nunca foram
Alexandre (Alexander) e Troia (Troy) brigam pelo título de pior épico de todos os tempos. Ok, talvez o filme com Brad Pitt não seja tão ruim, mas o maior atrativo é o ator pelado. Ou você lembra o filme por mais alguma coisa? Enquanto isso, Alexandre é esquizofrênico, força-nos a acreditar que Angelina Jolie (aliás, em péssima atuação) poderia ser mãe de Colin Farrell (por favor, não!) e ainda traz o pior relacionamento gay (porém, talvez, o mais antigo da história da humanidade – ou não) entre Alexandre (Farrell) e Hephaistion (Jared Leto). Cotações no Rotten Tomatoes: Alexandre – 16%, Troia – 54%. Ainda na carona dos épicos, a lenda do Rei Arthur (King Arthur – 31%) retorna às telas, mas não agrada nem em elenco e tampouco em narrativa.

No geral, 2004 não foi o ano das adaptações de HQs para o cinema. A Warner tentou destruir suas chances de reintroduzir a DC Comics na telona com, talvez, a pior adaptação de todos os tempos de uma história em quadrinho com Mulher-Gato (Catwoman – 9%), onde a antagonista de Batman basicamente tem super-poderes e nada se assemelha com a Selina Kyle que conhecemos – e amamos! Enquanto isso, outros estúdios se esforçaram para fazerem péssimas escolhas, como O Justiceiro (The Punisher – 29%) e Van Helsing: O Caçador de Monstros (Van Helsing – 23%). A sorte de Hugh Jackman é que ele ainda conseguiu se redimir na carreira.

Outras nabas marcantes: Uma Garota Encantada (Ella Enchanted – 50%), A Vila (The Village – 43%), Táxi (Taxi, com Gisele Bündchen, lembram? – 10%), Alien vs. Predador (AVP: Alien Vs. Predator – 21%), Dogville (Dogville, mais uma obra de Lars von Trier colocada num pedestal e que não oferece coisa alguma, listado como o quarto pior filme de 2004 pelo crítico Roger Ebert – 70%) e As Branquelas (White Chicks, neste aqui você está proibido rir se já completou o ensino médio, ok? – 15%).

Não sou de Hollywood
Em 2004, alguns filmes não produzidos em Hollywood tiveram destaque no cinema. Afinal, não são só os yankees que manjam de cinema. Um deles, óbvio, é brasileiro. Apesar de não ser um dos meus favoritos, Cazuza – O Tempo Não Pára ainda é um dos longa-metragens mais lembrados pelos brasileiros, principalmente por ser a cinebiografia de um ídolo querido em todo o território nacional – e até fora dele.

Não faltou polêmica em questão de sexualidade. Dois cineastas famosos (e polêmicos) fizeram questão de tratar o tema de forma explícita. Bernardo Bertolucci trouxe um estudante americano (Michael Pitt) à Paris de 1968 para viver uma amizade misturada com romance e incesto com os irmãos franceses interpretados por Louis Garrel e a belíssima Eva Green no drama Os Sonhadores (The Dreamers). Já Pedro Almodóvar apostou em mexer com religião, descoberta da sexualidade na juventude e homossexualidade em Má Educação (La mala educación).

Outros filmes estrangeiros que ganharam espaço debaixo do holofote e foram premiados mundo afora são o alemão A Queda – As Últimas Horas de Hitler (Der Untergang), o chinês O Clã das Adagas Voadoras (Shi mian mai fu), a animação nipônica O Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro) e o espanhol Mar Adentro (Mar adentro).

Filmes que já são clássicos da Sessão da Tarde
Para chorar: Diário de Uma Paixão (The Notebook).
Para assistir com os amigos, sem os pais por perto: Eurotrip – Passaporte Para a Confusão (Eurotrip).
Para desligar o cérebro e curtir a aventura: A Lenda do Tesouro Perdido (National Treasure).

Para ver em casal: Como Se Fosse a Primeira Vez (50 First Dates).
Para ter saudade da vibe dos anos 80: De Repente 30 (13 Going On 30).
Para lembrar como a Lindsay Lohan tinha potencial no cinema: Meninas Malvadas (Mean Girls).

Os melhores filmes de Hollywood
Todo ano temos várias continuações, mas 2004 foi campeã em trazer várias delas, incluindo os melhores capítulos de várias franquias. Considerado o melhor de toda a série por muitos fãs, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban) foi a primeira quebra daquele mundo cheio de magia e beleza que havia nos dois primeiros longas dirigidos por Chris Columbus. Foi a partir daí que a cinessérie começou a ganhar respeito do grande público e não somente dos fãs graças ao talento do agora oscarizado Alfonso Cuarón.

Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2) deu sequência à franquia (em 2014 já vamos para a segunda parte da segunda franquia do aracnídeo) de Sam Raimi e se firmou como um dos melhores filmes de super-heróis da história do cinema. De longe, o melhor Spider que já vimos até aqui. Quem também teve sua segunda parte foi a trilogia Bourne, com A Supremacia Bourne (The Bourne Supremacy), em que Paul Greengrass assume a batuta e traz ainda mais ação, seriedade, realismo e cenas de tirar o fôlego.

Não só os blockbusters ganham sequência. Quentin Tarantino fechou o arco da Noiva (Uma Thurman) com Kill Bill: Volume 2 (Kill Bill: Vol. 2), enquanto Richard Linklater revisitou o casal vivido nas telas por Ethan Hawke e Julie Delpy em Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset), capítulo do meio da trilogia finalizada no ano passado.

Houve o lançamento de duas animações marcantes. Shrek 2 (Shrek 2) e Os Incríveis (The Incredibles) competiram pelo prêmio de melhor filme animado no ano seguinte no Oscar, mas a animação da Pixar envolvendo uma família de super-heróis acabou faturando a melhor. Tudo bem. Os Incríveis é bom sim, mas nada foi mais marcante do que a sequência do longa com o ogro mais bonzinho do faz-de-conta. Shrek 2 é simplesmente hilário do começo ao fim, um dos (não tão raros) casos da sequência que é melhor do que o seu antecessor. As sequências foram ladeira abaixo na qualidade, o que acho ter feito deste ainda mais memorável.

Em termos de animação, talvez o melhor seja Team America – Detonando o Mundo (Team America: World Police), filme com bonecos dos criadores de South Park. Sexo entre bonecos. Palavrões. Ofensas gratuitas à atores de Hollywood. Vergonha alheia. Violência explícita. Cenas musicais. Sátira de King Jong-il. Crítica ácida ao modo dos EUA de querer mandar no mundo. Politicamente incorreto é um termo raso aqui. Team America é uma das coisas mais surreais e hilárias já vistas no cinema.

Em se tratando de violência, dois filmes marcaram o ano, cada um em seu extremo. A franquia Jogos Mortais (Saw) se iniciou aqui como um inteligente filme policial aliado com torture porn. Depois desandou do jeito que vocês já sabem. Outro longa-metragem que não economizou na violência foi A Paixão de Cristo (The Passion of the Christ), obra de Mel Gibson que retrata as últimas 12 horas de Jesus Cristo até a sua crucificação. Filmaço de primeira, ganhou a benção do Papa João Paulo II, teve três indicações ao Oscar, foi uma das maiores bilheterias do ano no mundo e gerou muita polêmica por ser violento demasiadamente.

Foi em 2004 que o diretor brasileiro Walter Salles (de Central do Brasil) alçou voos maiores no cinema contando a história de Ernesto Guevara em sua juventude quando viajava em sua motocicleta capenga pela América Latina. Este é Diários de Motocicleta (Diarios de motocicleta). Ainda mais ambicioso é o diretor francês Michel Gondry que criou uma obra ímpar, maluca, imprevisível, melancólica e belíssima: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind), um dos melhores filmes da década passada.

Diretores consagrados também marcaram a história de 2004 nas telonas. Martin Scorsese mais uma vez tentou vencer o Oscar (mas não foi dessa vez ainda) com a cinebiografia do cineasta e aviador Howard Hughes em O Aviador (The Aviator). O longa marcou a segunda parceria de Leonardo DiCaprio com o diretor, que hoje já têm juntos cinco filmes no currículo. O experiente Mike Nichols extrai de Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman performances viscerais em Closer – Perto Demais (Closer), película que expõe relacionamentos na vida adulta com requinte de crueldade inserido em traições, mentiras e sentimentos. Se nenhum dos filmes anteriores era possível se divertir, Menina de Ouro (Million Dollar Baby) é o que passa mais longe de qualquer vislumbre de alegria. A história da garota que não tinha nada na vida a não ser o sonho de ser lutadora de boxe é de cortar o coração. Ela se relaciona com um ex-lutador experiente e quer que ele seja seu treinador, mas ele reluta em atender o pedido da garota. A relação do tipo pai e filho entre Clint Eastwood e Hilary Swank rende momentos tenros e emoções profundas. É como um soco no estômago, quase tão dolorido quanto o chute que Anderson Silva tomou de Chris Weidman no ano passado. O filme é brilhante e até por isso faturou quatro Oscars no ano seguinte (melhor filme, direção, atriz e ator coadjuvante).

Isso é tudo, pessoal! Esperamos que você retorne para a segunda parte do especial Review Retrô sobre tudo o que de mais importante aconteceu na Cultura Pop em 2004. Na próxima edição, o que rolou na TV dez anos atrás.