4º Festival CineramaBC | Os Vencedores

O Dia do Mineiro leva o principal prêmio do festival

Cena do documentário "O Dia do Mineiro", grande vencedor do festival.
Cena do documentário “O Dia do Mineiro”, grande vencedor do CineramaBC.
Por Rodrigo Ramos

Domingo foram anunciados os vencedores do 4º CineramaBC. O vencedor do prêmio de melhor filme, agraciado com o Coruja de Ouro, foi O Dia do Mineiro, de Gaël Mocaër, merecido pelos desafios enfrentados pelo diretor ao filmar o dia-a-dia de trabalhadores de uma mina de carvão no interior da Ucrânia. Porém, o júri popular escolheu a comédia dramática Mamarosh, de Momcilo Mradovick, como a melhor película do festival.

4º Cineramabc posterMamarosh ainda levou o prêmio de melhor atriz (Mira Banjac). É difícil compreender como o longa carregou duas corujas douradas pra casa. Ambientado na Sérvia em 1999, o longa traz um homem de meia idade, projecionista de cinema frustrado, que ainda vive com sua mãe e que não tem muito em sua personalidade, tornando difícil a identificação com ele e tampouco ocasiona alguma simpatia. Se a intenção do diretor era fazer rir ou chorar, Momcilo falha em ambos os casos. Tanto que o diretor ainda fez questão de dizer à plateia ao final da sessão que o filme era uma comédia. Constrangedor, no mínimo. Ainda assim, teve mais sorte do que merecia.

O longa-metragem vencedor de melhor direção é Bas Devos, pelo belga Violet. Na trama, um garoto presencia a morte de seu melhor amigo diante de seus olhos. A cena inicial é intrigante, sendo registrada pelas câmeras de vigilância de um centro comercial. O que no início é um trunfo da direção, o fato de deixar o silêncio tomar conta num close que fixa a câmera no mesmo lugar por vários minutos, acaba comprometendo a experiência cinematográfica. O recurso poderia acrescentar se o diretor tivesse o timing ao utilizá-lo, mas Bas usa-o de maneira imprudente, em demasia, desperdiçando-o. A carga dramática fica comprometida e a sensação é a de que a fita poderia ser ainda mais curta do que os seus 80 minutos.

Quem merecia mais reconhecimento é o israelense Cruzeiro ao Paraíso, de Matan Guggenheim, que recebeu o prêmio de melhor ator (Oz Zehavi) e uma menção honrosa por conta de seu roteiro. Exibido na penúltima noite da competição, o longa traz dois protagonistas, uma fotógrafa que registra as expressões de soldados em seu trabalho e um soldado que é recém saído do serviço militar e que tem suas memórias perdidas da época em que serviu. Este é o filme mais completo exibido no festival, focando pouco na reviravolta (previsível) do final e mais no desenvolvimento dos seus personagens, além de desenhar com competência a experiência militar e o trauma que resulta na perda de memórias do período no exército – o diretor baseou o longa em algumas experiências que teve durante o tempo em que serviu. Aliás, o longa parece ter se comunicar com a animação Valsa Com Bashir (2008), porém Matan garante que não é proposital, apenas uma coincidência.

Sobrou ainda uma menção honrosa à montagem ao belga A Estranha Cor das Lágrimas de Seu Corpo, que foi uma das maiores decepções do festival. Fácil parabenizar pela equipe de direção de arte (ótimo portfólio para Julia Irribarria) e até montagem, porém o diretor Bruno Forzani claramente não sabe contar uma história, tortura o espectador com repetições de cenas e trilha, e passa longe do brilhantismo do surrealismo de David Lynch, a quem obviamente ele se inspira e/ou tenta imitar.

Confira a lista dos vencedores

Prêmio da Crítica – Conjunto da Obra de Hans Op De Beeck
Coruja de Ouro de Melhor curta-metragem – As Gaivotas, de Zeno Greton
Menção honrosa de curta-metragem – Norman, de Robbe Vervaeke
Menção honrosa de montagem – A Estranha cor das lágrimas de seu corpo, de Bruno Forzani e Helene Cattet
Menção honrosa de roteiro – Cruzeiro ao Paraíso, de Matan Guggenheim
Coruja de Ouro de Melhor atriz – Mira Banjac, em Mamarosh
Coruja de Ouro de Melhor ator – Oz Zehavi, em Cruzeiro ao Paraíso
Coruja de Ouro de Melhor direção – Bas Devos, por Violet
Melhor Filme segundo o júri popular – Mamarosh, de Momcilo Mradovick
Coruja de Ouro de Melhor flme – O Dia do Mineiro, de Gaël Mocaër

Texto originalmente publicado no site do jornal O Sol Diário, do Grupo RBS.

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