O som e a fúria do rei do soul brasileiro
Por Rodrigo Ramos
Quando se trata de uma cinebiografia, é difícil para o autor separar a admiração pela figura retratada e a atenção aos fatos. Se pegarmos como exemplo Lula – O Filho do Brasil, vemos uma retratação chapa branca, que busca endeusar o biografado, sem lhe apontar os defeitos. Não Pare Na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho é outra que coloca a figura do escritor num pedestal, fazendo um paralelo da sua figura com a de Jesus Cristo. A preocupação de que Tim Maia fosse seguir pelo mesmo caminho era grande.
Tim Maia é baseado em um livro de Nelson Motta e conta a história do maior cantor da música negra no Brasil, desde sua infância e juventude no Rio de Janeiro, sua passagem pelos EUA, até os momentos de estrelato e decadência. O enredo é narrado por Fábio (Cauã Reymond), amigo e colega de banda do cantor, o que se torna um dos principais trunfos da película. Em entrevista à Revista Preview, o diretor do longa-metragem, Mauro Lima, disse que não utilizou a narrativa em primeira pessoa pois seria “muito atrevimento conceitual”. A distância que Fábio tem da figura de Tim é perfeita para que não haja endeusamento da figura e suas opiniões sobre o protagonista sejam de alguém que viu de perto o que este fazia, seja diante da carreira profissional, amigos, amores e familiares.
A genialidade como compositor e músico de Tim Maia não deixa de ser mencionada, mas a pessoa não se resume apenas a isso. Um pouco arrogante, impossível de ser domado, orgulhoso, persistente, intenso, egocêntrico e folgado são apenas algumas das denominações. Sebastião Rodrigues Maia (nome verdadeiro dele) tinha várias facetas e é uma tarefa árdua conseguir desenhar essa personalidade forte que possuía. Os dois atores que fazem o personagem, Robson Nunes (na versão mais jovem) e Babu Santana (na maturidade), dão corpo e alma à figura emblemática e dão conta de reencená-lo de uma forma tão ímpar que é quase impossível desatar a imagem deles à de Tim após a sessão, como se fossem parte de Maia.
As situações escolhidas para o longa-metragem são chave para a evolução da persona. Como em uma boa cinebiografia estadunidense – lá eles costumam fazê-las, mostrando até os lados mais obscuros como em A Rede Social, Johnny & June e Ray –, Tim Maia mostra todos os aspectos da vida, na parte profissional e na pessoal. Aliás, elas se misturam de tal maneira que o personagem deixa-se levar e perde o rumo – como acontece com muitos artistas que deixam o sucesso subir à cabeça. Mauro Lima conduz seu elenco pela narrativa com qualidade de cinemão, mas sem diminuir o seu espectador. É uma experiência de conhecimento do personagem, uma navegação por suas incongruências e sua música, que perdura através do tempo e permanece fantástica.
Tim Maia
Brasil, 2014 – 144 min
Drama
Direção:
Mauro Lima
Roteiro:
Mauro Lima, Antonia Pellegrino
Elenco:
Babu Santana, Cauã Reymond, Robson Nunes, Alinne Moraes
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